Por uma teoria circular da comunicação: Revisitar e desdobrar a inspiração freireana no pensamento comunicacional latino-americano

Por una teoría circular de la comunicación: Revisitando y desplegando la inspiración freireana en el pensamiento comunicacional latinoamericano

For a circular theory of communication: Revisiting and unfolding the Freirean inspiration in Latin American communicational thinking

Ana Cristina SUZINA
Brasil Reino Unido

http://orcid.org/0000-0003-3559-6513
Loughborough University London
a.suzina@lboro.ac.uk

Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación

N.º 150, agosto - noviembre 2022 (Sección Monográfico, pp. 145-160)

ISSN 1390-1079 / e-ISSN 1390-924X

Ecuador: CIESPAL
Recibido: 06-03-2022 / Aprobado: 11-08-2022 / Publicado: 21-08-2022

 

Resumo

Este artigo resgata, inicialmente, a influência de Paulo Freire no desenvolvimento de uma epistemologia latino-americana da comunicação para, em seguida, propor a sistematização de uma teoria da comunicação subjacente ao conjunto da obra do educador brasileiro. Assim, dá origem a uma abordagem circular à comunicação, em oposição à abordagem linear, inspirada fundamentalmente na teoria da ação comunicativa de Habermas. Demonstra também a necessidade de desdobrar o pensamento de Freire e incluir outras referências, como as provenientes de cosmologias indígenas e tradicionais. Responde ainda a uma maior aproximação entre as teorias da comunicação e do conhecimento, com um olhar para a diversidade epistemológica e para a interdisciplinaridade.

Palavras-chave: Paulo Freire, comunicação, epistemologia, América Latina.

Abstract

This article initially rescues Paulo Freire’s influence on the development of a Latin American epistemology of communication, and then proposes the systematization of a theory of communication underlying the work of the Brazilian educator. Thus, it gives rise to a circular approach to communication, as opposed to the linear approach, fundamentally inspired by Habermas’s theory of communicative action. It also demonstrates the need to unfold Freire’s thinking and include other references, such as those from indigenous and traditional cosmologies. It also responds to a greater approximation between the theories of communication and knowledge, with a look at epistemological diversity and interdisciplinarity.

Keywords: Paulo Freire, communication, epistemology, Latin America.

Resumen

Este artículo rescata inicialmente la influencia de Paulo Freire en el desarrollo de una epistemología latinoamericana de la comunicación, para luego proponer la sistematización de una teoría de la comunicación que subyace a la obra del educador brasileño. Así, da lugar a un enfoque circular de la comunicación, en contraposición al enfoque lineal, inspirado fundamentalmente en la teoría de la acción comunicativa de Habermas. También demuestra la necesidad de desplegar el pensamiento de Freire e incluir otras referencias, como las de las cosmologías indígenas y tradicionales. Responde también a una mayor aproximación entre las teorías de la comunicación y el conocimiento, con una mirada a la diversidad epistemológica y la interdisciplinariedad.

Palabras clave: Paulo Freire, comunicación, epistemología, América Latina.

 

Introdução

Quando se fala em epistemologia latino-americana da comunicação, são frequentes as referências a duas ondas de diálogo com outras epistemologias. A primeira se situa ao redor dos anos 1960 e está muito vinculada ao debate sobre a economia política da comunicação e a importância do desenvolvimento de modelos alternativos para pensar e produzir mídias Armand e Michelle Mattelart, Juan Díaz Bordenave, Ramiro Beltrán, Mario Kaplún, entre outros, são alguns dos expoentes dessa fase. A segunda se situa ao redor dos anos 1980 e se associa aos enfoques culturais com destaque para contribuições de Jesús Martín-Barbero e Néstor García Canclini, entre outros. Ambas essas ondas compartilham um caráter marcadamente crítico (Berger, 1999). A primeira teve importante participação em reflexões que alimentaram a construção do relatório MacBride (1980) e dos planos para uma Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação (NOMIC). Esteve também associada a uma revisão da compreensão do papel da comunicação em projetos e processos de desenvolvimento (Orué Pozzo, 2021; Peruzzo, 2021), configurando o que Thomas Tufte define como uma de suas dimensões da comunicação para a mudança social, marcada por seu caráter e seus dispositivos participativos (Tufte, 2017). A segunda contribuiu para uma importante revisão conceitual no campo e para o reconhecimento da capacidade de agenciamento das audiências, inclusive as populares, na apropriação da comunicação, a partir de conceitos como o de mediação e de culturas híbridas.

Os trabalhos de Paulo Freire são uma referência importante em ambas essas ondas, com reconhecimentos e desdobramentos claramente mencionados por muitos dos autores, se não todos, acima mencionados (Lima, 2021). Como defendi em outro artigo (Autor, 2022), a abrangência de sua influência se deve, entre outras razoes, ao fato que um princípio de coletividade está na origem, no método e constitui o horizonte do trabalho de Freire. Sua obra pode ser entendida como a expressão de uma visão coletiva da educação, em particular, e da sociedade como um todo, em geral. Seus textos estão repletos de passagens nas quais ele atribui suas reflexões às experiências com os movimentos populares da América Latina, a partir dos anos 1950. Como resume Francisco Morais, sua obra “é um catalisador deste momento de efervescência política e cultural, por uma sociedade democrática, aberta, capaz de ir além da sociedade fechada, herdada do processo de colonização do país” (texto não publicado).

Mais do que uma referência ou inspiração, neste artigo, eu busco posicionar a obra de Paulo Freire como um marco conceitual do qual emerge uma teoria específica da comunicação, de caráter circular. Esta se distingue do paradigma da ação comunicativa tal como definido por Jürgen Habermas (2012 [1981]), no contexto de seu conceito de esfera pública (Habermas, 2003), cujo caráter pode ser considerado linear.

O aspecto central dessa oposição é o entendimento de que a premissa da deliberação como ponto central do progresso democrático tem ajudado a sustentar a ideia de que a evolução das plataformas tecnossociais que possibilitam a comunicação é suficiente para alcançar esse progresso. Se bem é verdade que Freire declarou explicitamente, incluindo em sua Pedagogia do Oprimido (Freire, 2005), que o problema fundamental do então chamado Terceiro Mundo era o direito à voz ou o direito a pronunciar sua palavra, muitas de suas reflexões ampliam a complexidade desse direito, com definições como as de “palavra autêntica” (Freire, 2005) e de “conhecimento autêntico” (Freire, 2013), e com uma exigência ontológica de reciprocidade como atributo fundamental da comunicação (Freire, 1967).

A fantasia da participação, tal como definida por Jodi Dean (2005) em sua noção de capitalismo comunicativo, descreve amplamente, em tempos de redes sociais digitais, a igualdade forjada da esfera pública habermasiana, que suprime as diferenças em defesa de uma suposta neutralidade, como critica Nancy Fraser (1992). Anita Gurumurthy, uma das fundadoras e líderes da ONG IT for Change, na Índia, descreve a manifestação dessa reflexão a partir de sua experiência. Para ela, “[a] maneira como nos relacionamos parece ter a aparência de ‘paridade’, de igualdade e capacidade de ser ouvido; mas esses [atributos] não existem” (Gurumurthy, 2022).

Nesse contexto, a teoria da ação comunicativa de Habermas tem funcionado como uma linha abissal (De Sousa Santos, 2007), que impede de ver alternativas ou mesmo de ver a comunicação como um processo efetivamente dialógico, tal como entendida por Freire, ou para além dele, incluindo abordagens tradicionais e indígenas, por exemplo. Em uma analogia com as ciências naturais, tomar o modelo linear como modelo universal para pensar a ação comunicativa e a participação na esfera pública, seria como continuar a olhar natureza exclusivamente a partir da perspectiva de Lineu,1 sem levar em conta os avanços posteriores das teorias evolutivas. Resgatar a teoria da comunicação subliminar na obra de Paulo Freire, e desdobrá-la a partir de reflexões posteriores a ela, é uma maneira de reafirmar o potencial das epistemologias críticas da comunicação latino-americana para responder aos problemas atuais desse campo.

O marco conceitual freireano: entendendo a comunicação como um processo circular

Apesar de ser mais conhecida e referenciada nos campos da pedagogia e da educação, uma teoria da comunicação também pode ser identificada como subjacente às obras de Paulo Freire. Ao contrário do que sugere a evidência, seu livro Extensão ou Comunicação? (Freire, 2013) não é a única obra em que Freire avança definições ontológicas e atributos normativos para a prática e a conceituação da comunicação. Venício A. de Lima (Lima, 2011; 2021) é um dos autores que mais explorou esse aspecto. Para ele, é impossível entender o conceito de comunicação em Freire abordando-o de forma isolada, pois sua compreensão sobre a comunicação está entrelaçada nas diversas reflexões eu ele faz ao longo de suas diferentes obras.

Encarando o homem como um Sujeito criativo em relação com o mundo e um ser essencialmente comunicativo em relação com outros homens, Freire estabelece a base filosófica imediata de sua epistemologia em suas implicações políticas. A análise dessas áreas desvenda a dimensão total de seu conceito de comunicação. (Lima, 2011, p. 87)

A comunicação é uma categoria fundamental na teoria freireana da educação. Freire afirma que a “educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (Freire, 2013, p. 59). Sendo assim, ao definir os atributos da educação, Freire termina descrevendo uma teoria da comunicação que, por sua vez, está intimamente ligada a uma teoria do conhecimento. Para Freire, comunicar é uma vocação humana e está intrinsecamente relacionada com o ato de transformar o mundo, numa relação de reciprocidade entre sujeitos iguais em suas capacidades criativas.

Enfatizando que a comunicação significa coparticipação dos Sujeitos no ato de pensar, que o objeto de conhecimento não pode ser constituir no termo exclusivo do pensamento, mas, de fato, é seu mediador, e que o conhecimento é construído por meio das relações entre os seres humanos e o mundo, Freire está, na verdade, definindo a comunicação como a situação social na qual as pessoas criam conhecimento juntas, transformando e humanizando o mundo em vez de transmiti-lo, dá-lo ou impô-lo. (Lima, 2011, p. 89, itálico no original)

Ao revisar a obra de Freire, não resta, portanto, dúvida de que ele traça um marco conceitual suficientemente sólido para a sistematização de uma teoria da comunicação. Atributos centrais nessa teorização, aspectos como “coparticipação”, “significação dos significados”, “reciprocidade”, entre outros, serão desdobrados mais adiante. Mais recentemente, as comemorações do centenário de seu nascimento, em 2021, demonstraram o vigor, a amplitude e a atualidade de reflexões e práticas no campo da mídia e da comunicação em estreito diálogo com a obra de Freire ao redor do mundo (Suzina e Tufte, 2022; Autor, xxxx). Alguns dos exemplos incluem o diálogo de Freire com pensadores e marcos referenciais na Índia (Thomas, 2021), África do Sul (Chasi e Rodny-Gumede, 2021; Chasi, 2022) e México (González, 2021; González, 2022), ou sua influência na própria constituição da pesquisa em comunicação na América Latina (Peruzzo, 2020; Cogo, 2021). O vasto diálogo com a atuação de Freire em movimentos sociais e organizações da sociedade civil ao redor do mundo também o coloca em uma posição interessante como marco conceitual para experiências prefigurativas no campo da comunicação (Suzina, 2021; Faxina, 2021; Brahma, 2022; Citelli, Suzina e Tufte, 2021).

Neste artigo, defendo que dois princípios normativos emergentes do conjunto da obra de Freire podem servir de fundamento para uma epistemologia de comunicação capaz de conectar-se com diferentes realidades para além da América Latinae apoiar processos de transformação social. São eles: 1. Reconhecer e considerar as diferenças e desigualdades como aspectos fundamentais dos atos comunicativos, e 2. Admitir a comunicação como o passo inicial de um processo de construção da convivência na diversidade. Estes princípios normativos, que serão desdobrados mais adiante, operam sob um princípio ontológico que permite entender e valorizar o caráter circular da comunicação.

Freire costumava dizer que seu método não deveria ser copiado, mas revisto e transformado. Sua provocação sempre foi para que as pessoas partam da realidade em que se encontram, de seu contexto, de suas necessidades, de seus saberes, para construir processos de educação e transformação social. Método e conteúdos seriam, então, reinterpretados a partir da observação dessa realidade. Tal abertura permite e estimula uma flexibilidade e uma reflexividade que faz da epistemologia da comunicação inspirada em Freire um processo circular, em permanente transformação. Sua autoridade não está em validar ou invalidar formas de conhecimento, mas em observá-las e integrá-las, conforme sua pertinência ao projeto de emancipação de cada sociedade, em um processo relacional e dinâmico.

A expressão do que Freire define como a “palavra verdadeira” (Freire, 2005) se refere a intercâmbios sustentados sobre um diálogo permanente, em que todos os participantes podem aprender uns com os outros e evoluir, respeitando suas próprias identidades e interesses. Sobretudo, todos os participantes têm a possibilidade de participar do processo de objetivação e consequente transformação do mundo. Nesta concepção, a palavra é mais do que um meio para realizar o diálogo (Lima, 2011, p. 91); ela constitui a própria manifestação da práxis comunicacional, em que ação e reflexão se integram, conciliando subjetivação e objetivação.

É relevante observar que tal abordagem epistemológica não considera a equalização ou a eliminação de poderes. Em vez disso, enfatiza sua existência enquanto reivindica o reconhecimento daqueles frequentemente marginalizados e revisa seu alcance de influência. Sua força libertadora está em seu posicionamento como um poder em relação aos outros, distante da busca de se tornar uma totalidade (De Sousa Santos, 2002). A circularidade da comunicação pressupõe que o que agora é horizontal se tornará vertical em determinado ponto, mas volta a ser horizontal posteriormente, evidenciando a interdependência de todos os elementos do sistema. Tal como a teoria da evolução adicionou drama à organização biológica (Wilson, 1999, p. 4), um modelo circular de comunicação abraça a imprevisibilidade das relações sociais, que alguns observam como paradoxos na própria obra de Freire, para se aproximar da dinâmica das experiências vividas e manter uma revisão constante dos marcos conceituais.

Freire privilegia o contexto sobre o modelo. A epistemologia da comunicação subjacente a essa perspectiva se distancia daquela decorrente da noção de esfera pública habermasiana. O arcabouço conceitual de Habermas se fundamenta no medo; o otimismo de uma esfera pública racional baseia-se em uma necessária dinâmica de controle e antecipação de movimentos. Alternativamente, o quadro de Freire é avançado como o da confiança, em que a subjetividade, a reflexividade e a coexistência são as próprias fontes de uma esfera de comunicação circular,em vez de linear. É nesta perspectiva que os dois princípios normativos delineados neste artigo devem ser entendidos.

A esfera pública da diversidade

O fundamento da esfera pública habermasiana, amplamente adotada pelo mundo ocidental, é uma igualdade e sua consequente neutralidade, ambas forjadas. Mais precisamente, grande parte da epistemologia ocidental da comunicação é baseada na Teoria da Ação Comunicativa (Habermas, 2012 [1981]), descrita como ideal segundo esse modelo. No entanto, tanto as sociedades locais quanto a sociedade global são historicamente mantidas em desigualdade e assimetria, por diversos mecanismos.

Aqui devemos lembrar que a concepção burguesa da esfera pública exige a contenção das desigualdades de status. Essa esfera pública deveria ser uma arena na qual os interlocutores deixariam de lado características como diferenças de nascimento e fortuna e falariam uns com os outros como se fossem pares sociais e econômicos. A frase operativa aqui é “como se”. . (Fraser, 1992, p. 118-119).

Diferente disso, na epistemologia da comunicação derivada da obra de Freire é essencial reconhecer e considerar as diferenças e as desigualdades como aspectos centrais dos atos comunicativos. Fundamentalmente, Freire parte do pressuposto que existe uma relação de dominação entre diferentes pessoas e grupos, e na própria visão de mundo assimilada pelos oprimidos. Em vez de desconsiderar essa condição ou atribuí-la a distorções do sistema institucional, ele afirma que um processo autêntico de comunicação precisa fazer parte de sua superação, porque a comunicação “implica uma reciprocidade que não pode ser rompida” (Freire, 2013, p. 58).

Por um lado, esse aspecto é importante porque destaca a posicionalidade dos argumentos. Como observa Iris Marion Young, “pessoas em posições diferentes têm experiências, histórias e conhecimentos sociais diferentes derivados desse posicionamento” (Young, 2000, p. 136). Segundo a definição de Young, uma perspectiva social é “o ponto de vista que os membros do grupo têm sobre os processos sociais por causa de sua posição neles” (p. 137). Essa definição é relevante porque destaca tanto a racionalidade de um julgamento (ter um ponto de vista) quanto a experiência vivida dos indivíduos (a posição nos grupos). Na realidade, ele se opõe à fragmentação do conhecimento e da vida, e evidencia a complexidade das oposições binárias como bom x ruim, tradicional x moderno, válido x inválido etc. O que leva Freire a dizer que um conhecimento não é melhor ou pior, mas complementar, é o fundamento epistemológico de que a participação em atos comunicativos está inserida na história dos indivíduos e que diferentes histórias precisam ser consideradas para estabelecer dinâmicas comunicativas efetivamente significativas. Para Freire, pensamento e linguagem constituem uma totalidade e se referem à realidade do sujeito que pensa (Freire, 2005).

Por outro lado, sua abordagem também destaca o efeito das desigualdades nos intercâmbios comunicativos. A diferença nas histórias de vida não representa apenas diversidade de posições e, portanto, de perspectivas, mas também, diferentes disponibilidades de recursos. Nessa perspectiva, como pondera o próprio Habermas, não basta esperar do cidadão republicano “muito mais do que uma orientação para seus próprios interesses” (Habermas, 2011 [1996], p. 402), contando com certa solidariedade inata de uma concepção política republicana. Jane Mansbridge (1983) argumenta que a questão da desigualdade só constitui um problema para a democracia quando os interlocutores têm interesses distintos ou, pior, contraditórios. Quando Freire defende que o sujeito precisa ter no objeto o termo do seu pensamento (Lima, 2011, p. 89), sob pena de comprometer todo o processo de comunicação, ele está reforçando o aspecto de reciprocidade nessa dinâmica em que, sob o jugo da dominação, os interesses tendem a ser conflitantes. Em resumo, nesse cenário, não pode haver comunicação em que um sujeito é ativo e o outro é completamente passivo.

A analogia da “educação bancária” (Freire, 1987), amplamente criticada por Freire, é a alegoria máxima de uma relação comunicativa em que um dos interlocutores se posiciona como aquele que sabe (o professor) e coloca o outro como aquele que não sabe (o aluno), e estabelece nessa assimetria de poder uma forma de relação. O elemento mais importante nessa dinâmica relacional não é o conhecimento, mas o estabelecimento de lugares de poder e autoridade e, portanto, como diz Freire, de opressão. O próprio Habermas reconhece que o modelo deliberativo dominante “tem também uma força vinculante no modo de exercer a dominação política” (Habermas, 2011 [1996], p. 406) ao atribuir validade ao resultado de uma troca comunicativa supostamente representativa. No quadro epistemológico freireano, a posicionalidade das perspectivas e a assimetria de poder não podem ser desconsideradas, sob pena de invalidar o resultado do ato comunicativo.

A comunicação como ponto de partida

O segundo princípio normativo da epistemologia da comunicação baseada na obra de Freire implica admitir a comunicação como o passo inicial de um processo de construção da convivência na diversidade. Essa prerrogativa representa justamente desafiar a ideia de deliberação como característica fundamental e linear da democracia. Mesmo quando Habermas discute os limites do modelo deliberativo, segundo correntes liberais e republicanas, ele identifica como solução investir “na forma institucionalizada das deliberações nas corporações parlamentares” e “na rede de comunicações das esferas públicas e políticas” (Habermas, 2011 [1996], p. 413).

Essas comunicações sem sujeito, dentro e fora das corporações políticas programadas para tomar decisões, formam arenas nas quais uma formação mais ou menos racional de opinião e vontade pode ser dada sobre questões relevantes para a sociedade e sobre assuntos que precisam ser regulados. (Habermas, 2011 [1996], p. 413)

Para Habermas, melhorar a democracia envolve a institucionalização de procedimentos deliberativos. Sua solução continua a colocar a ação comunicativa no centro da organização social, mas aprofunda a ideia de que a comunicação é um processo linear em que a vontade coletiva se expressa na forma de uma decisão única para todos. Diferente disso, eu defendo que a esfera pública na lógica de Freire está orientada para um arranjo coletivo, que não é o consenso esperado no modelo habermasiano, a ação comunicativa em Habermas busca a uniformidade (o consenso) e a ação comunicativa em Freire busca diversidade (a libertação).

Entender a comunicação como ponto de partida significa redefinir os mecanismos de convivência em sociedade, considerando que uma sociedade comunicativa faz mais do que trocar informações para atingir objetivos ou definir regras comuns a serem impostas uniformemente a todos. A ação comunicativa é maior que o processo deliberativo e, sobretudo, não é neutra nem submetida a uma fórmula uniformizada. A comunicação não é um produto, mas uma forma de viver.

Neste sentido, a comunicação é o ponto de partida do processo que Freire descreve como “significação dos significados” (Freire, 2013, p. 59) e que converte a comunicação em representação, como uma dimensão de justiça (Fraser, 2010). Para Nancy Fraser (2010), a dimensão de representação, em seu conceito de justiça, está associada à capacidade de participar do desenho da sociedade, da definição própria do que é a justiça. Apesar de posicionado sobre uma distinção bastante limitada entre seres humanos e elementos da natureza, que voltará a ser tratada adiante, Freire insiste sobre o fato que seres humanos não são objetos por natureza, mas sujeitos criativos, o que quer dizer que limitar a capacidade criativa dos seres humanos na compreensão freireana, fundamentalmente descrita como a capacidade de nomear o mundo para criá-lo e transformá-lo é o maior indicativo de um sistema de opressão. A comunicação abre o espaço para promover um acordo sobre o que conhecemos.

Tal perspectiva exige a revisão inclusive da forma como se entende a apropriação da comunicação em movimentos sociais e outras iniciativas em busca de transformação social. Nela, nenhuma dinâmica de comunicação se resume a um instrumento a serviço de uma ação qual seja, mas integra organicamente a própria natureza do processo de mudança, incluindo a construção de sua identidade coletiva, suas reivindicações e sua forma de se posicionar publicamente.

A epistemologia da comunicação que emerge da obra de Freire rejeita a neutralidade, porque esta favorece os poderosos; rejeita a uniformidade como resultado de um processo de comunicação; e rejeita também o consenso como meta do processo comunicativo. Sua maior preocupação é a paridade de participação nas trocas e, por isso, desafia a autoridade do saber, levando em conta a diversidade das experiências locais e a convivência entre saberes distintos e complementares, na perspectiva de preservar e fortalecer a dignidade de todos.

Nessa análise, é um equívoco pensar que o resultado da comunicação é um entendimento que minimiza diferenças de identidades, interesses e perspectivas. Conhecer, sob a égide da diversidade, significa “outrar-se”, que Muniz Sodré define como “ir além da contemplação intelectual do outro para aceitar afetivamente a co-presença” (Sodré, 2021). Para Habermas, “os procedimentos e pressupostos comunicativos da formação democrática” funcionam como “fechaduras” (Habermas, 2011 [1996], p. 414); sob Freire, a comunicação é a porta do diálogo, cujo objetivo é definir o comum que permite a cada um ser cada um ou, usando o slogan zapatista, construir um mundo em que caibam muitos mundos.

Relevância da abordagem circular da comunicação para os desafios atuais

Existem pelo menos três aspectos que validam a importância do desenvolvimento da abordagem circular da comunicação. O primeiro consiste, simplesmente, em superar a colonialidade que representa o modelo linear nos estudos sobre mídia e comunicação. Desprender-se deste modelo significa acolher a paradoxalidade da epistemologia freireana ou de qualquer outra que admita que as seguranças institucionais e conceituais são mais restritivas do que libertadoras, e sobretudo que não conferem nenhum tipo de neutralidade a análises científicas ou formulações políticas.

A obra de Freire é criticada pela suposta ambiguidade de seus princípios (Lima, 2011, p. 94) que, apesar de defender o diálogo como único caminho para a superação da dominação, também apontam para a impossibilidade de diálogo entre opressores e oprimidos; e apesar de valorizar o poder emancipador dos oprimidos, sugerem que é preciso desconfiar de seu engajamento. Esses aspectos que parecem paradoxais, como bem analisa Lima (2011), são produto de uma visão de mundo sociopolítica de Freire e de sua permanente conexão e consequente conhecimento prático com a realidade de iniciativas de transformação social em diferentes países. A epistemologia freireana rejeita o lugar seguro dos postulados teóricos, porque exige o compromisso metodológico de uma revisão permanente na relação com o tempo e o espaço.

O segundo aspecto requer reconhecer que a abordagem linear da comunicação não parece ter contribuído para o cumprimento da promessa da democratização e muito menos da inclusão ou da diversidade na participação no debate público. Tomada sob a égide de uma linha abissal (De Sousa Santos, 2007), essa abordagem conduz a valorizar toda e qualquer forma de suposta ampliação dos espaços de deliberação, como se este fosse o ponto de chegada da democracia. A sobrevalorização das tecnologias digitais e das redes sociais digitais é um exemplo de como o modelo linear conduz a validar soluções que fazem parte de um mesmo marco conceitual, sem questionar suas bases. Neste contexto, a valorização da ampliação dos espaços de expressão proposta pela internet, entre outros casos, continua a desconsiderar os problemas de desigualdade estrutural e assimetria de poder na sociedade, produzindo mais concentração e até mesmo o retorno a formatos difusionistas e verticalizados de interação, muito distantes do ideal de comunicação dialógica e inclusiva.

A abordagem circular da comunicação é necessariamente crítica e, independente da solução tecnossocial, questiona a maneira como soluções apresentadas viabilizam a coparticipação e a reciprocidade na construção de sentidos, inclusive sobre o significado das próprias soluções tecnossociais. Por não ter um fim em si mesma, essa comunicação, na teoria e na prática, pergunta sobre o horizonte de transformação, segundo cada contexto espaço-temporal. Tal perspectiva não nega nem rejeita desenvolvimentos científicos e tecnológicos, mas reconhece que seu desprendimento da realidade os coloca em uma corrida paralela que mais alimenta ansiedades do que projeta esperanças ou respostas aos problemas vividos pelas pessoas, individual e coletivamente.

Finalmente, o terceiro aspecto diz respeito à forma como a comunicação está associada à produção e à circulação do conhecimento. Wilson (1999) defende que a maioria dos problemas que afetam as sociedades quotidianamente não podem ser solucionados sem integrar diversos tipos de conhecimento e que essa vai ser a grande questão do século XXI.

Não basta dizer que a ação humana é histórica e que a história é um desdobramento de eventos únicos. Nada de fundamental separa o curso da história humana do curso da história física, seja nas estrelas ou na diversidade orgânica. (Wilson, 1999, p. 11)

Ao estabelecer uma rota paralela para a comunicação, o modelo linear constrói igualmente rotas paralelas para o conhecimento que, apesar de abundante e amplamente difundido atualmente, penetra na sociedade de forma confusa e concorrente. A preocupação de Wilson (1999) é com a dispersão da ciência em ramos cada vez mais específicos e fragmentados. Ele defende que a diversidade e a profundidade do conhecimento se alcançam ao preencher as lacunas entre as grandes correntes de pensamento e aprendizado.

Tanto quanto e intrinsecamente para a educação e para a comunicação, Freire considera que a transmissão pura e simples não produz conhecimento autêntico-abundância não resolve a equação proposta por Wilson. Para o brasileiro, o conhecimento que é imposto, que não parte ou se refere à experiência, que não envolve os sujeitos aos quais ele se refere, não é um conhecimento autêntico. A partir dessa perspectiva, o conhecimento autêntico nasce da coprodução de significados, um aspecto que sugere aproximar a abordagem circular da comunicação ao objetivo de unidade do conhecimento, necessária para responder aos desafios contemporâneos.

Com Freire e além: como perspectivas tradicionais e indígenas expandem a noção de comunicação circular

Como já mencionado, Freire faz uma defesa da capacidade criativa natural de todos os seres humanos. A desumanização de oprimidos e opressores, representada como o resultado mais evidente da dominação, em sua obra, significa, fundamentalmente, retirar ou negar essa capacidade criativa e crítica dos seres humanos. A distinção dessa capacidade se faz, porém, em uma comparação com a natureza limitada a uma visão ocidental e racionalizada do mundo. Nela, os seres humanos estabelecem relações com o mundo, enquanto os elementos da natureza se limitam a contatos e estão no mundo.

Os contatos, por outro lado, modo de ser próprio da esfera animal, implicam, ao contrário das relações, em respostas singulares, reflexas e não reflexivas e culturalmente inconseqüentes. Deles resulta a acomodação, não a integração. Portanto, enquanto o animal é essencialmente um ser da acomodação e do ajustamento, o homem o é da integração. (Freire, 1967, p. 42)

Como propomos neste artigo, Freire se desprende do modelo linear de comunicação, mas ainda há outras expansões que podem e devem ser feitas para completar uma epistemologia circular da comunicação. As contribuições de povos indígenas e tradicionais oferecem importantes aportes neste sentido, indicando que a mesma capacidade de agenciamento reivindicada como direito a ser reconhecido aos seres humanos se estende à natureza e a seres transcendentais que habitam diferentes cosmologias. Essas contribuições representam uma expansão epistemológica e filosófica similar ao que a teoria da evolução representou para a compreensão da biologia. Nas palavras de Edward O. Wilson, “a escala se expandiu e se tornou contínua” (Wilson, 1999, p. 4).

Em um seminário durante as celebrações do centenário de nascimento de Freire, Ailton Krenak2 provocou os participantes a contrastar a ideia de revolução em Freire com a ideia de evolução, que leva em conta tanto uma espécie de subjetividade da natureza como sua constante transformação.

Alguns cientistas contemporâneos nossos já estão admitindo que esse cosmos e essa Terra são vivos, são vida, são um código de vida. Se a gente conseguir plugar esse código de vida, a gente pode dar um passo na evolução. É muito interessante no centenário do Paulo Freire alguém alternar a palavra evolução com uma que ele gostava muito, que era revolução. Nós precisamos evoluir, não no sentido darwinista, que muita gente se aproveitou da teoria do Darwin para imprimir mais contradição, mais irritação e mais desigualdade entre nós. Uma evolução que nos leva ao sentido da vida. (Krenak, 2022)

Diversas culturas indígenas latino-americanas registram e se orientam em um processo de comunicação com a natureza como um ente em plena relação com o mundo, para situá-los na epistemologia freireana. A declaração Kawsak Sacha (Original People of Sarayaku, 2018), elaborada pelo Povo Tradicional Kichwa de Sarayaku, no Equador, se traduz literalmente como a declaração da selva vivente, reivindicando seu lugar nos processos decisórios sobre o destino do território respectivo. A comunicação desenvolvida na comunidade de Sarayaku estabelece uma relação de reciprocidade entre as pessoas de forma intergeracional, e entre elas e a natureza e os seres transcendentais que a habitam. A declaração Kawsak Sacha é um exemplo claro e concreto de uma comunicação que se fundamenta na diversidade e que funciona como o ponto de partida para um exercício de significação dos significados, de nominação do mundo.

Esse processo, no qual um modelo circular de comunicação ocupa uma posição privilegiada, pode ser entendido como a construção de uma versão ampliada do que Wilson resume como “consiliência” (Wilson, 1999). Para ele, consiliência é a chave para a unidade do conhecimento, o ponto em que ciências naturais, sociais e humanas se encontram para analisar e iluminar os problemas reais da humanidade, como discutido antes.

Como já mencionado, na epistemologia freireana, a teoria da comunicação está intrinsecamente ligada à teoria do conhecimento. Ao ser expandida para conferir reciprocidade também à natureza e entidades presentes em diferentes cosmologias, em diálogo com abordagens tradicionais e indígenas, pode oferecer respostas alternativas, ancoradas na realidade vivida em diferentes territórios e naquilo que os afeta de maneira comum.

Em resumo

Este artigo, inicialmente, resgata a influência de Paulo Freire no desenvolvimento de uma epistemologia latino-americana da comunicação para, em seguida, propor a sistematização de uma teoria da comunicação subjacente ao conjunto da obra do educador brasileiro. Essa sistematização dá origem ao que defino como uma abordagem circular à comunicação, em oposição a outra abordagem que chamo de linear, e que se inspira fundamentalmente da teoria da ação comunicativa de Habermas.

A abordagem circular à comunicação se caracteriza por buscar a constituição de uma esfera pública da diversidade e por situar a comunicação como um ponto de partida para o processo de significação dos significados. Desta maneira, se converte no que Fraser considera como a dimensão de representação de seu conceito de justiça, porque opera no nível de definição das regras para a definição dos arranjos sociais.

A sistematização de uma teoria da comunicação a partir da epistemologia freireana representa um avanço em relação à abordagem linear da comunicação, mas demonstra também a necessidade de desdobrar o pensamento de Freire e incluir outras referências, como as provenientes de cosmologias indígenas e tradicionais. Responde também a uma relação mais íntima entre teoria da comunicação e teoria do conhecimento, com um olhar para a diversidade epistemológica e para a interdisciplinaridade. Trata-se de um exercício em andamento, que busca valorizar e contribuir para o desenvolvimento de teorias críticas inspiradas em saberes da América Latina.

Referências

Berger, C. (1999). Crítica, perplexa, de intervenção e de denúncia: a pesquisa já foi assim na América Latina. Intexto, 2(6), 1-15.

Brahma, J. (2022). Love as Praxis: Reflections from Theatre of the Oppressed Movement in Eastern India. In A. C. Suzina, e T. Tufte. Freire and the Perseverance of Hope: Exploring Communications and Social Change. Amsterdam: Institute of Network Cultures.

Chasi, C. (2022). On Humility: Reading Freire with Ubuntu. In A. C. Suzina, e T. Tufte, Freire and the Perseverance of Hope: Exploring Communications and Social Change. Amsterdam: Institute of Network Cultures.

Chasi, C., e Rodny-Gumede, Y. (2021). Critical Conscieousness and Cultural Emancipation in (South) African Heritages of Communication for Social Change. MATRIZes, 15(3), 169-183.

Citelli, A., Suzina, A. C., e Tufte, T. (2021). Coexistence and Learning. MATRIZes, 15(3), 245-284.

Cogo, D. (2021, december 21). Paulo Freire e a Pesquisa em Comunicacao na América Latina. Punto de Encuentro,18-21.

Dean, J. (2005). Communicative Capitalism: Circulation and the foreclosure of politics. Culture Politics, 1(1), 51-74.

De Sousa Santos, B. (2002). Para uma sociologia das ausencias e uma sociologia das emergencias. Revista Critica de Ciencias Sociais, 63(Outubro), 237-280.

———. (2007). Beyond abyssal thinking: from global lines to ecologies of knowledges. Review.

Faxina, E. (2021, december 21). Paulo Freire: Por uma Transformacao Lenta e Profunda da Sociedade. Punto de Encuentro, 14-17.

Fraser, N. (1992). Rethinking the Public Sphere: A contribution to the critique of actually existing democracy. In C. Calhoun, Habermas and the Public Sphere (pp. 109-142). Cambridge and London: The MIT Press.

Fraser, N. (2010). Reframing justice in a globalizing world. In N. Fraser. Scales of justice. Reimagining political space in a globalizing world (pp. 12-29). New York: Columbia University Press.

Freire, P. (1967). Educacao como Prática da Liberdade (1st ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

———. (2005). Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

———. (2013). Extensao ou Comunicacao? (1st ed.). (R. D. Oliveira, Trans.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

González, F. S. (2022). Re-thinking Communication as a political tool with critical optismism. In A. C. Suzina, e T. Tufte, Freire and the Perseverance of Hope: Exploring Communications and Social Change. Amsterdam: Institute of Network Cultures.

González, J. (2021). Conocer es actuar: Desde la epistemología genética al legado de Paulo Freire. MATRIZes, 15(3), 83-100.

Gurumurthy, A. (2022). Freirian ‘Humility’ in the Age of the Proliferating Spectacle: A Reflection. In A. C. Suzina, e T. Tufte, Reclaiming Affect in Resistance. Amsterdam: Institute of Network Cultures.

Habermas, J. (2003). Mudança estrutural da esfera pública: Investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa (2nd ed.). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Habermas, J. (2011 [1996]). A inclusao do outro. Sao Paulo: Editora Unesp.

———.. (2012 [1981]). Teoria do Agir Comunicativo - Tomo 1: Racionalidade da ação e racionalização social. (P. A. Soethe, Trans.). São Paulo: Martins Fontes.

Krenak, A. (2022). Eating, drinking, dancing, singing and lifting the sky. In A. C. Suzina, e T. Tufte, Freire and the Perseverance of Hope: Exploring Communication and Social Change (pp. 70-76). Amsterdam: Institute of Network Cultures.

Lima, V. A. (2011). Comunicacao e Cultura: as ideias de Paulo Freire (Vol. 2). Brasília: Editora UnB / Editora Fundacao Perseu Abramo.

Lima, V. A. (2021). Comunicação libertadora no século XXI. MATRIZes, 15(3), 27-49.

MacBride, S. (1980). Many Voices, One World. Towards a new more just and more eficcient world information and communication order. London: UNESCO.

Mansbridge, J. J. (1983). Beyond adversary democracy. Chicago: The University of Chicago Press.

Original People of Sarayaku. (2018). The Living Forest Declaration. Retrieved from Kawsac Sacha www.kawsaksacha.org.

Orué Pozzo, A. (2021). Thinking about communication from the Global South. In A. C. Suzina. The evolution of popular communication in Latin America. An epistemology of the south from media and communication studies. Palgrave.

Peruzzo, C. M. (2020). Paulo Freire’s role and influence on the praxis of popular communication in Brazil. International Communication Gazette, 82(5), 425-439.

Peruzzo, C. M. (2021). Popular and Communitarian Communication in Rural Social Movements: Beyond “Diffusionism” to Emancipatory Participation. In A. C. Suzina. The evolution of popular communication in Latin America. An epistemology of the south from media and communication studies. Palgrave.

Sodré, M. (2021, august). Pensamento de Paulo Freire. Aula: Pós-Graduacao em Comunicacao, ECO-UFRJ. Rio de Janeiro.

Suzina, A. C., e Tufte, T. (2022). Freire and the perseverance of hope. Exploring communication and social change. Amsterdam: Institute of Network Cultures.

Thomas, P. (2021). Freire, Communications and Tolerance in India. MATRIZes, 15(3), 203-222.

Tufte, T. (2017). Communication and Social Change. A citizen perspective. Cambridge: Polity.

Wilson, E. O. (1999). Consilience. The unity of knowledge. New York: Vintage Books.

Young, I. M. (2000). Inclusion and Democracy. New York: Oxford University Press.


1 Swedish botanist, zoologist, taxonomist, and physician who formalised binomial nomenclature, the modern system of naming organisms. He is known as the “father of modern taxonomy” (source: https://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Linnaeus).

2 Disponível em português, com legendas em inglês, emhttps://repository.lboro.ac.uk/articles/media/Eating_drinking_dancing_singing_and_lifting_the_sky/14515704.