Seis décadas de CIESPAL: Troca de papéis e a formação de um campo latino-americano
Six decades of CIESPAL: Changing roles and the formation of a Latin American field
Seis décadas de CIESPAL: Cambio de roles y formación de un campo latinoamericano
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Otávio DAROS
Brasil
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0738-8207
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
otavio.daros@gmail.com
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación
N.º 150, agosto - noviembre 2022 (Sección Monográfico, pp. 161-176)
ISSN 1390-1079 / e-ISSN 1390-924X
Ecuador: CIESPAL
Recibido: 04-03-2022 / Aprobado: 05-08-2022 / Publicado: 21-08-2022
Resumo
Surgido no contexto da Guerra Fria, como iniciativa da UNESCO, o CIESPAL construiu-se, desde sua fundação em 1959, como uma instituição ao mesmo tempo regional e internacional para o estudo do jornalismo e da comunicação na América Latina. Este artigo busca reconstruir a trajetória de mais de 60 anos —da ascensão à crise— deste centro de ensino, pesquisa e documentação. Por meio da análise histórico-crítica, destacam-se mudanças de orientação teórico-metodológica, bem como trocas de papéis, sob o argumento que sua atuação, além de dinâmica, se relaciona com os projetos políticos e sociais que emergiram na transição dos regimes ditatoriais ao cenário democrático no continente.
Palavras-chave: estudos de comunicação, educação e pesquisa, América Latina, UNESCO.
Abstract
Created in the context of the Cold War, as an initiative of UNESCO, CIESPAL has built itself, since its foundation in 1959, as a regional and international institution for the study of journalism and communication in Latin America. This article seeks to reconstruct the trajectory of more than 60 years —from the rise to the crisis— of this teaching, research and documentation center. Through historical-critical analysis, changes in theoretical-methodological orientation are highlighted, as well as role changes, under the argument that its performance, in addition to being dynamic, is related to the political and social projects that emerged in the transition from dictatorial regimes to the democratic scenario on the continent.
Keywords: communication studies, education and research, Latin America, UNESCO.
Resumen
Creado en el contexto de la Guerra Fría, como iniciativa de la UNESCO, CIESPAL se ha construido, desde su fundación en 1959, como una institución regional e internacional para el estudio del periodismo y la comunicación en América Latina. Este artículo busca reconstruir la trayectoria de más de 60 años —desde el surgimiento hasta la crisis— de este centro de docencia, investigación y documentación. A través del análisis histórico-crítico, se destacan los cambios de orientación teórico-metodológica, así como los cambios de rol, bajo el argumento de que su desempeño, además de ser dinámico, está relacionado con los proyectos políticos y sociales surgidos en la transición de los regímenes dictatoriales al escenario democrático en el continente.
Palabras clave: estudios de la comunicación, educación e investigación, América Latina, UNESCO.
1. Introdução
Enquanto agência especializada, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) mobilizou, desde sua fundação em 1945, esforços para favorecer a difusão da cultura e a livre circulação de informação entre as nações. À vista disso, um dos projetos priorizados pelo conselho foi a implantação de centros de formação para jornalistas não apenas na Europa, mas também para os chamados “países do terceiro mundo”. No contexto da Guerra Fria, marcado pelas disputas de poder entre o bloco ocidental e o bloco socialista, o primeiro desses estabelecimentos foi o Centre International d’Enseignement Supérieur du Journalisme (CIESJ), aberto na França em 1957. Dois anos mais tarde, inaugurou-se outro no Equador: o Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina (CIESPAL), posto em funcionamento sob os auspícios do governo local e nas instalações da Universidad Central del Ecuador (UCE).
Nosso trabalho que visa reconstruir sua trajetória justifica-se na medida em que aborda criticamente o papel de uma instituição internacional pioneira para fins de ensino, documentação e pesquisa científica sobre jornalismo e comunicação na América Latina. Como reconhece Raúl Fuentes Navarro (2019), sua fundação “permitiu uma primeira referência transnacional para a disseminação de projetos de comunicação intra e extra-latino-americanos de alcance e orientação diversos” (p. 40). Para Gustavo Adolfo León Duarte (2012), mais do que isso, pois a partir dela “se instaura o germe e fundamento de maior peso para o desenvolvimento do campo acadêmico da comunicação na América Latina, o que também origina o caminho para abrir, por um lado, o desenvolvimento da institucionalização em sua pesquisa e, por outro, o da consolidação do ensino” (p. 253).
Ademais, teve o centro equatoriano papel-chave na reorganização das escolas de jornalismo em toda a região e, posteriormente, a sua conversão em escolas de comunicação, inicialmente sob a adjetivação de comunicación de masas, depois comunicación colectiva e, finalmente, comunicación social (Feliciano, 1988, p. 56). Ainda, sob a sua influência, foram elaboradas e colocadas em práticas diretrizes para os projetos pedagógicos das novas graduações, estabelecendo conteúdos essenciais e duração mínima para os cursos.
O argumento a ser explorado no presente artigo é o de que o desenvolvimento do CIESPAL guarda estreita relação com as mudanças políticas e sociais que se passaram na América Latina, ao longo da segunda metade do século XX. Quer dizer que, em vez de estático, seu papel tem sido dinâmico e se relaciona profundamente com o ambiente no qual está inserido. Para tanto, começa-se por evidenciar como o centro se construiu de início como um espaço de difusão de teorias e metodologias ligadas à mass communication research norte-americana, em pleno auge da Guerra Fria. Em seguida, mostra-se como, em vez de meramente assimiladas pelos pesquisadores latino-americanos, tais orientações se tornaram objeto de críticas e deram lugar a outras tendências, que se conectaram ao movimento de crise dos regimes autoritários de direita e prenúncio da futura guinada à esquerda na região.
Então, passa-se a discutir como este giro, paradoxalmente, coincidiu com o início da perda de preponderância do CIESPAL diante de um cenário de emergência e, subsequentemente, de ampliação e diversificação do campo de estudos da comunicação. Ou seja, a análise histórica também identifica e aborda a mudança de papel da instituição, que não é mais o de protagonista como chegou a ser entre as décadas de 1960 e 1980, ainda que permaneça como uma referência importante para a comunidade acadêmica da área.
2. Estruturação do centro enquanto instituição internacional
Conferindo relevância aos meios de comunicação no desenvolvimento cultural e econômico, ao mesmo tempo percebendo a problemática da incipiente formação acadêmica entre os profissionais do campo e, assim, a falta de investigações sobre a natureza e o impacto dos fenômenos de massa, sobretudo, no “terceiro mundo”, a UNESCO passou a avaliar formas de intervir na situação. Em sua sede em Paris, foram organizadas reuniões com representantes de entidades acadêmicas, profissionais e governamentais, sendo a principal delas a realizada em 1956, com a anuência de especialistas de mais de 20 países (UNESCO, 1956). Uma das decisões foi o planejamento de centros regionais que se encarregariam de qualificar tanto jornalistas profissionais quanto professores da área.
No final do ano seguinte, a agência da ONU promoveu a fundação do primeiro organismo, baseado em Estrasburgo: o CIESJ. Dirigido por Jacques Leauté, buscou atender prioritariamente as demandas da comunidade europeia, embora estendesse ações para a África. Em 1958, durante a 10ª Conferência Geral da UNESCO, foi recomendada a implantação de um estabelecimento semelhante na capital equatoriana, para contemplar, agora, a emergente comunidade latino-americana. “Como um centro regional, de caráter internacional, não governamental, com personalidade jurídica própria e encarregado de estudar os problemas do jornalismo”, seus objetivos estavam “centrados em três aspectos essenciais: a) ensino; b) documentação; e, c) pesquisa científica” (CIESPAL, 1960, p. 6).
No âmbito do aperfeiçoamento docente, a atuação foi notória mediante a realização de seminários pedagógicos e científicos, com distribuição de bolsas de estudos da UNESCO, mas também da Ford Foundation e da Organization of American States (OEA). Quanto ao serviço de documentação, privilegiou-se inicialmente a sistematização de dados relativos à imprensa periódica e às escolas de jornalismo já em funcionamento no continente. Para a execução das tarefas, foi preciso angariar recursos múltiplos. A estrutura física, por exemplo, foi disponibilizada pela Universidade Central do Equador, que atribuiu ao CIESPAL status de organismo universitário autônomo. Mais do que isso, porém, se fazia necessária a criação de um ambiente apropriado para o trabalho acadêmico.
Para a formação de acervo documental e bibliográfico, foram recebidas contribuições de organizações diversas como: East-West Center (EWC) e Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL), Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e Instituto de Cultura Hispánica (ICH), além da Universidad de Navarra (UNAV), Universidad Veracruzana (UV) e Universidade de São Paulo (USP), que doaram livros em português e espanhol. Entre as grandes fundações anglo-saxônicas, doações vieram da Thomson e principalmente da Ford (CIESPAL, 1971, p. 1-13).
A primeira equipe administrativa do centro foi composta pelo diplomata Homero Viteri Lafronte na posição de diretor e pelo jornalista Jorge Fernández como secretário geral, logo promovido ao cargo principal. Seu sucessor foi Gonzalo Córdova, que havia ocupado o posto de secretário geral durante a gestão anterior, e, por isso, tido como continuador de Fernández. Contudo, na gestão de Córdova assistiu-se a mudanças que devem ser sublinhadas, a começar pela aproximação com a Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) da Alemanha, que passou a patrocinar eventos e publicações. Entre estas, a revista Chasqui, lançada com a proposta de contemplar uma ampla gama de temas da comunicação, em vez de enfocar o jornalismo.
Tal abertura temática é, na verdade, sintomática de uma mudança maior que estava em curso: a submissão da pesquisa e do ensino de jornalismo aos estudos da comunicação. Fato que pode ser evidenciado desde a modificação do nome da instituição após 14 anos de atividades. Fundado como Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina, o CIESPAL foi renomeado para Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina. Outra reforma que se materializou na época diz respeito ao plano estrutural: a construção de uma sede própria, com escritórios, auditório e gráfica, inaugurada sob a gestão de Marco Ordóñez Andrade, em 1979.
Nesse momento, convém assinalar, o Equador entrava em processo de transição democrática, após período de intervenção militar iniciado com o golpe de 1972. Razões que ajudam a compreender por que as transformações no âmbito do CIESPAL ganharam forma exatamente sob esse contexto não faltam. A ditadura equatoriana dos anos 1970, resumidamente, apoiou tanto a modernização econômica quanto as reformas sociais, ao passo que buscava afirmar a soberania nacional. Conforme Anita Isaacs (1993), “durante uma época em que a maioria dos países da América Latina era governada por ditaduras implacáveis encarregadas de estabilizar e ressuscitar economias em dificuldades, a dictablanda equatoriana teve a sorte de acompanhar um período de expansão econômica sem precedentes” (p. 4).
3. Alinhamento com o paradigma metodológico “dominante”
Sob a gestão de Fernández, o CIESPAL em sua primeira década foi marcado, como é sabido, pela recepção dos fundamentos teórico-metodológicos da mass communication research. Tal alinhamento pode ser explicado em parte como consequência dos recursos advindos das organizações estadunidenses, que estimularam tanto a contratação de professores de universidades norte-americanas quanto a publicação de traduções das obras desses (a exemplo: Deutschmann, 1965). Ao longo da década de 1960, estudiosos como Raymond Nixon lideraram projetos e ministraram seminários no centro, enquanto outros como Wilbur Schramm, Ralph O. Nafziger e David Manning White tiveram trabalhos eleitos para integrar o cânone do campo que estava em fase de formação na América Latina.
No caso de Schramm, cabe ressaltar que ele ocupou lugar privilegiado internacionalmente ao atuar enquanto consultor da UNESCO, embora não fora contratado como professor do CIESPAL. Suas obras foram traduzidas, entre outros idiomas, para o espanhol pela editora do centro (Schramm, 1964, 1967). Já o caso de Nixon foi diferente, pois ele se fez presente por um longo tempo no quadro de colaboradores da instituição, inclusive como professor do curso inaugural. Sua participação era importante para a internacionalização da mesma, já que na época Nixon era presidente da recém-fundada International Association for Mass Communication Research (IAMCR).
Entre as lideranças acadêmicas de fora dos Estados Unidos que estiveram presentes na fase de estruturação, convém destacar o nome de Jacques Kayser, vice-diretor do Institut Français de Presse (IFP). Apesar da sua morte em 1963, os registros de seus seminários sobre análise comparativa e morfológica de conteúdo dos jornais foram rapidamente assimilados, após serem compilados e traduzidos para o espanhol (Kayser, 1961, 1963).
Empregada para fins de classificação e quantificação de conteúdo, tais procedimentos de investigação foram introduzidos no centro por serem dotados de “cientificidade”. Seus adeptos produziram incursões descritivas e mensurativas em torno dos diários latino-americanos. O objetivo era basicamente listar as afinidades e diferenças entre eles, “relacionando-as ao tratamento dado aos acontecimentos mais importantes da região” (CIESPAL, 1967, p. 4). Todavia, dada a falta de aprofundamento dos exames, suas conclusões ficaram presas a constatações primárias. Por exemplo, observou-se que “os jornais sul-americanos geralmente contêm mais que o dobro do volume de notícias do exterior do que os jornais dos Estados Unidos” (Markham, 1962, p. 17).
Em balanço sobre a primeira fase do CIESPAL, Iury Parente Aragão (2017) sintetiza bem o cenário até meados da década de 1960, ao recuperar dados levantados originalmente por Gonzalo Córdova. Primeiramente, a maioria dos livros publicados eram de autores e instituições dos Estados Unidos (12 publicações) e da França (8). Outro ponto concerne à nacionalidade dos professores contratados: 10 eram dos Estados Unidos, 9 da Europa (4 da França e o restante da Bélgica, Espanha, Polônia e Alemanha) e 8 da América Latina (3 do Equador, 3 do Chile e 2 do Brasil). O campo que havia predominância de latino-amercanos era, obviamente, o de alunos: eram 366 matriculados que vinham de 20 países das Américas, sendo 186 deles bolsistas,114 da UNESCO, 63 da OEA e 9 da Fundação Ford.
Como constata Parente Aragão (2017), “o CIESPAL se caracterizava por ser um centro internacional, mas sua internacionalização não se referia à difusão do pensamento de diversos países da América Latina” (p. 350), estando demasiadamente limitada aos Estados Unidos e à Europa. Ou seja, operava sob uma visão essencialmente colonizadora de ensino e pesquisa, visto que a estratégia consistia em convocar professores estrangeiros para transmitir seus conhecimentos aos estudantes latino-americanos. Por sua vez, estes deveriam aplicar os modelos teórico-metodológicos ensinados ao quadro da imprensa local. Devidamente treinados, os acadêmicos voltariam aos seus países de origem para retransmitir este conjunto de ideias e técnicas aos estudantes dos novos cursos de comunicação.
Não significa, no entanto, que críticas e resistências a isso não tenham surgido entre os pesquisadores filiados ao CIESPAL. Armand Mattelart (1970) foi um deles, ao argumentar que a pesquisa em comunicação de massa, em geral, falhava ao ignorar aspectos ideológicos das mensagens, assim como as reações dos receptores; de modo que os resultados “são muitas vezes muito escassos”. Adicionando que nesse tipo de análise de conteúdo “cuja reiteração estatística é registrada, e cujas porcentagens de aparecimento são calculadas, não leva, na maioria dos casos, senão a resultados monótonos e superficiais” (p. 15).
4. Conversão das escolas de jornalismo em escolas de comunicação
Até o início das atividades do CIESPAL, as escolas de jornalismo existentes na América Latina eram caracterizadas, em sua maioria, por uma formação humanística abrangente, sem a mesma ênfase no ensino prático e preparação profissional como era comum nas escolas norte-americanas. Os primeiros cursos de jornalismo surgiram por aqui geralmente como anexos das faculdades de filosofia ou outras áreas das humanidades. Ou seja, não eram estabelecimentos autônomos, com quadros docentes compostos por acadêmicos especializados e jornalistas profissionais com longa experiência na imprensa. O que prevalecia era o ensino de disciplinas como filosofia e ética, história da arte e crítica literária, línguas e gramática, ensinadas por docentes das respectivas áreas.
Logo após a instalação do centro equatoriano, a equipe administrativa “convocou um grupo de diretores de escolas de jornalismo e diretores de jornais da América Latina para realizar um seminário de consulta e estabelecer quais deveriam ser os objetivos do CIESPAL, segundo os critérios das escolas e da profissão” (Fernández, 1965, p. 1). O entendimento que se formou era de que “as escolas de ciências da informação coletiva do continente precisavam ter um esquema básico comum, que lhes desse uma referência para manter um diálogo” (CIESPAL, 1965, p. 27). Dito de outra maneira: houve esforço para desfazer a formação genérica e essencialmente humanística, pois julgou-se que esta não corresponderia às exigências para atuação na imprensa profissional e em outros setores da comunicação.
O primeiro plano de ensino esboçado pelo CIESPAL teria sido submetido para avaliação dos representantes das escolas latino-americanas de jornalismo em 1964. A este plano piloto se incorporaram aperfeiçoamentos surgidos ao longo de discussões nos seminários regionais, que foram realizados nas cidades de Medellín, México, Buenos Aires e Rio de Janeiro, durante a primeira década de funcionamento do centro. Conforme Marco Ordoñez Andrade (1974), um de seus ex-diretores, o objetivo era, primeiramente, tornar as escolas de jornalismo autônomas dentro das universidades e não mais submissas às faculdades de filosofia, letras, direito etc. Ao mesmo tempo, empreendeu-se esforço para transformá-las em escolas de ciências da informação e, posteriormente, em escolas de comunicação social, como assim vieram a permanecer. Uma das justificativas era de que, dessa maneira, se estaria retirando a ênfase demasiada sobre o jornalismo impresso.
O CIESPAL defendeu, ademais, que a formação deveria ocorrer em ambiente universitário, com duração de 4 anos para as graduações. Também houve orientação de que fossem incluídas no currículo disciplinas de teoria da comunicação, sociologia da comunicação e psicologia da comunicação, as quais eram inexistentes nas antigas escolas. Além disso, sugeriu-se que metade das disciplinas fossem técnico-profissionais. Para implementar este conjunto de mudanças, justificou-se que era necessário investir na formação de comunicadores polivalentes, em sintonia com as demandas geradas pela expansão do rádio e da televisão, das agências de propaganda e de relações públicas.
Embora, desde o fim da Guerra Fria, o CIESPAL tenha perdido seu poder de intervenção na área, as escolas de comunicação já eram hegemônicas quando começaram a aumentar as divergências a este projeto, especialmente entre os estudiosos do jornalismo (Mellado, 2010). Um de seus críticos de longa data, Eduardo Meditsch (1999) argumenta que “o CIESPAL não se limitou a propor a criação de um novo tipo de profissional: propôs a extinção e substituição de profissões já existentes”, “uma vez que seu objetivo não era compreender o aprimoramento dessas práticas existentes, mas substituí-las por outra forma de prática mais produtiva do ponto de vista de seus objetivos políticos” (p. 72).
Não havendo aqui espaço para tal discussão, o que não se pode ignorar é que, em tempos de autoritarismo e de regimes centralizadores, determinadas reformas no ensino são priorizadas não por acaso em prol de outras. Em ditaduras, reformas curriculares tendem a ocorrer sem que haja ambiente propício para o debate entre os diferentes segmentos das comunidades acadêmica e profissional. Portanto, não surpreende que tenha sido sob esse contexto que o CIESPAL tenha encontrado condições para assumir um caráter de interventor no campo acadêmico da comunicação, em plena formação no continente nos idos de 1970.
5. Reposicionamento do centro e busca por uma nova perspectiva
Se, no plano do ensino, houve aprofundamento desse projeto de conversão das escolas de jornalismo em escolas de comunicação e na sua autonomização em relação aos departamentos de filosofia, no plano da pesquisa, houve outro movimento: o de afastamento da zona de influência ideológica representada pelos modelos importados dos Estados Unidos.
As críticas ao “paradigma dominante” ascenderam após um encontro das lideranças regionais na capital da Costa Rica, em 1973, com o objetivo de fazer um balanço das pesquisas e definir os caminhos para o desenvolvimento da área na América Latina. O seminário realizado em San José, cabe comentar, foi organizado com financiamento da Friedrich Ebert e com o apoio do Centro de Estudios Democráticos de América Latina (CEDAL). Em última instância, significa que a mudança de orientação teórica que se verifica no CIESPAL, na década de 1970 em diante, se associa aos incentivos vindos tanto de outros centros regionais como de organizações europeias, especialmente da Alemanha.
O primeiro ponto tratado no encontro foi sobre a situação de dependência que se criou no campo devido à recepção acrítica de teorias e técnicas de investigação importadas dos centros metropolitanos. Conforme relatado, essas “nem sempre correspondem à realidade e às necessidades de pesquisa dos países atrasados e dependentes, apesar de serem aplicadas indiscriminadamente às situações da região, com resultados obviamente inadequados e às vezes distorcidos”. Seu uso torna-se ainda mais problemático, na medida em que “foi induzido sob o pressuposto de que a teoria social é universal e que sua validade ultrapassa o quadro de espaços culturais e processos históricos” (CIESPAL, 1973, p. 13).
Mais do que identificar as ideologias intrínsecas da mass communication research, as lideranças acadêmicas ligadas ao centro passaram a incentivar seus colegas a cultivar atitudes propositivas, objetivando que desenhassem suas próprias abordagens e empreendessem análises contextuais. Visto que, para eles, o “Terceiro Mundo pode conter a possibilidade privilegiada de desenvolver novos caminhos, tanto teóricos quanto metodológicos, de extrema importância para a pesquisa em comunicação” (CIESPAL, 1973, p. 14).
Essa mudança de estratégia adotada pelo centro equatoriano contribuiu para que os investigadores latino-americanos passassem a ocupar não apenas postos acadêmicos de destaque, mas também assumissem papéis de teorizadores, que na década anterior haviam sido reservados notadamente aos professores norte-americanos e franceses. A mudança, todavia, não foi imediata, até porque a recomendação inicial não foi o abandono das técnicas empregadas na análise quantitativa de conteúdo nem especificamente na análise morfológica, mas aproximação e adaptação junto a outros aparatos. O resultado disso, na prática, foi uma guinada em direção a influências europeias, como a semiologia e análise do discurso, a teoria crítica frankfurtiana e a economia política. Entre apropriações e combinações, fortaleceu-se o entendimento de que a pesquisa quantitativa deveria ser preservada, porém deveria operar com base na interpretação qualitativa dos dados.
Um dos principais críticos da dominação cultural norte-americana, Luis Ramiro Beltrán (1976) argumentou que nos casos de influência tanto do marxismo quanto da semiologia —ou nos casos que ambas se articulam—, importa chamar atenção que essa “nova abordagem decorre da compreensão da comunicação integral e dinamicamente como um processo”, bem como “da convicção de que tal processo está inextricavelmente entrelaçado com a estrutura da sociedade como um todo e, particularmente, com os determinantes econômicos dessa estrutura” (p. 127).
Enquanto na década de 1960, o CIESPAL havia priorizado a tradução e a publicação de trabalhos procedentes dos Estados Unidos, nos anos seguintes foi privilegiada a edição de contribuições de estudiosos ibero-americanos, a exemplo de Jesús Martín-Barbero (1978) e Mario Kaplún (1985). Os cursos e seminários também se diversificaram e foram ministrados, em sua maioria, por acadêmicos e profissionais de mídia latino-americanos. Aos recursos advindos da FES se somaram bolsas fornecidas por outras organizações européias como a Konrad-Adenauer-Stiftung (KAS) e a Radio Nederland Training Centre (RNTC).
6. Descentralização e perda de influência dentro do campo
Após um período inicial com prevalência do grupo equatoriano pertencente ao próprio quadro do CIESPAL, o campo se alargou com a entrada de estudiosos oriundos de países vários. Entre os pioneiros, pode-se destacar, além dos nomes já citados, outros como o chileno Edgardo Henry Ríos, o brasileiro Luiz Beltrão, o argentino Eliseo Verón, o venezuelano Luís Aníbal Gómez, o paraguaio Juan Díaz Bordenave, o peruano Rafael Roncagliolo, além de nomes vindos da Europa como Antonio Pasquali e Michèle Mattelart. A estes deve-se acrescentar continuadores e renovadores dessa tradição, como o brasileiro José Marques de Melo, a argentina María Cristina Mata, o equatoriano Alberto Efendy Maldonado Gómez e os mexicanos Guillermo Orozco Gómez e Raúl Fuentes Navarro.
Dada a diversidade da produção intelectual e de questões teórico-metodológicas trazidas por esse coletivo, fica impossibilitada que se efetue aqui uma revisão da literatura pós-1973. Ainda assim, pode-se verificar que, notadamente ao longo das primeiras décadas de atividade, o CIESPAL contribuiu para a formação acadêmica, apoiou o desenvolvimento de pesquisas e serviu de rede de contatos para centenas de pesquisadores latino-americanos, que vieram a ocupar posições importantes nas universidades e organizações da região ou do estrangeiro. À medida que estes pioneiros e seus sucessores se estabeleceram enquanto acadêmicos, à frente de novos centros de formação e com seus próprios laboratórios de pesquisa, seus trabalhos passaram a ser definidores dos paradigmas do campo latino-americano e, por extensão, do CIESPAL.
Mantida desde 1972, a Chasqui pode ser visualizada tanto como irradiadora de temas e abordagens que emergiram dessa comunidade acadêmica, quanto ilustradora das tendências que orientaram a prática de pesquisa ligada ao centro, após seu giro “crítico” à esquerda. À vista disso, cabe comentar alguns tópicos com o intuito de dimensionar a evolução da respectiva produção científica. A começar pela década de 1970, quando sobressaíram análises dos aspectos ideológicos dos discursos veiculados pelos meios, chamando atenção para a relação entre as significações dos textos e suas condições de produção (Verón, 1973, 1974); bem como críticas denunciantes das estratégias de dominação utilizadas pelas potências capitalistas do Norte, com base em estudos que tentaram problematizar a venda de programas de televisão para as emissoras latino-americanas (Fox de Cardona, 1974) e o aumento da presença de outros conteúdos estrangeiros (Ordóñez Andrade e Encalada Reyes, 1976).
Tais enfoques ganharam espaço com o avanço do movimento da Nova Ordem Mundial da Informação (NIIO) e a publicação do Relatório MacBride pela UNESCO na virada para a década de 1980. As preocupações trazidas sobre direito à informação e democratização da comunicação foram colhidas e, sem demora, pautaram as reflexões. Foram crescentes os esforços endereçados ao papel da comunicação popular e da mídia alternativa na construção da cidadania e de uma sociedade participativa (Martín-Barbero, 1983; Díaz Bordenave, 1989; Mata, 1993). Do ponto de vista teórico, houve inspiração no modelo de comunicação horizontal e dialógica trabalhado por Paulo Freire (Freire, 1982).
Além da continuidade de investigações voltadas aos usos sociais da mídia para uma educação emancipatória, aumentou expressivamente o número de ensaios de revisão sobre os estudos produzidos na região, sendo acompanhados de dossiês e coletâneas sobre a trajetória dos pensadores da área. Desde o fim dos anos 1990, figuras como Mario Kaplún, Manuel Calvo Hernando, Eliseo Verón, Jesús Martín-Barbero e Néstor García Canclini receberam homenagens —em sua maioria relatos laudatórios— e menos frequentemente análises reflexivas com valor epistemológico (ver Maldonado Gómez, 2009).
Merece atenção o fato de que à medida que o campo latino-americano se desenvolveu e se potencializaram iniciativas de pensar as características dessa tradição, com suas próprias escolas e autores, paradoxalmente, o CIESPAL foi perdendo o papel de centralidade que teve, pelo menos até a virada para a década de 1980. De certo modo, isso pode ser explicado pela criação bem-sucedida de outros organismos internacionais como a Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), fundada em 1978; pela multiplicação de escolas, programas de pós-graduação, redes de pesquisa e projetos de cooperação internacional (Vassallo de Lopes, 2012); pelo estabelecimento de carreiras acadêmicas e outras oportunidades em países que, em um passado não distante, atravessaram regimes ditatoriais; enfim, um conjunto de mudanças que se processou nas últimas décadas e que não pode ser desvinculado dos avanços democráticos.
Nos últimos anos, no entanto, ficou mais visível como a maioria dos países latino-americanos permanece altamente dependente dos financiamentos externos e se encontra com economias estagnadas, o que corrobora o ambiente de instabilidade política e fragilidade democrática. Inseridos nesse contexto, instituições como o CIESPAL têm sido vítimas do descaso dos governantes com a educação e a ciência. No caso do centro equatoriano, “esta situação é vivida desde 2018, na qual foi feita uma redução de 50% no orçamento e os cortes continuam ano após ano, até chegar ao momento atual em que até os funcionários ficam sem remuneração” (CIESPAL, 2021), como suas lideranças tornaram público em carta de adesão endereçada à presidência da república.
7. Conclusões
Nosso esforço ao longo desse artigo foi na direção de mostrar como, em seus mais de 60 anos de história, o CIESPAL se formou como instituição regional e internacional por meio da interação de forças e interesses tanto estrangeiros quanto locais e, assim, foi capaz de desempenhar múltiplos papéis —às vezes como protagonista e outras como coadjuvante— na modelagem do nosso campo acadêmico na América Latina. Por um lado, como propositor de projetos pedagógicos e epistemológicos, assim como formador e orientador de uma geração pioneira de estudiosos latino-americanos; de outro lado, foi por eles e seus sucessores influenciado e renovado: prestando apoio a suas investigações, acolhendo temas, e refletindo as tendências teórico-metodológicas desses. Em síntese, caracterizou-se como mediador e articulador, mas também como um interventor.
Sua fundação, em 1959, inseriu-se no movimento mais amplo de disputa ideológica e geopolítica que caracterizou o período da Guerra Fria, na medida em que a abertura do centro equatoriano “foi marcada por um grande aporte de verbas de fundações estadunidenses, especialmente a Fundação Ford” (Meditsch, 2021, p. 128), que patrocinou consultorias especializadas, bolsas de estudos e tradução de trabalhos do inglês. Como foi detalhado, na primeira década de atividade do CIESPAL, o que predominou foram as premissas importadas da mass communication research e a presença de professores norte-americanos como Raymond Nixon, que além de “inegáveis credenciais e de uma grande capacidade acadêmica”, “tinha uma forte articulação com agências do governo dos Estados Unidos, que passaram a financiar suas atividades na América Latina” (p. 128).
Todavia, seria ingênuo supor que entre as forças políticas antagônicas não haja contradições, como a continuidade de projetos. No campo de ensino, “direita e esquerda disputaram durante várias décadas, em um reflexo do que se passava a nível internacional, mas ambas” apoiaram reformas curriculares com pontos em comum, como a conversão das escolas de jornalismo em escolas de comunicação. Quer num quer noutro caso de influência ideológica, ensejou-se algum tipo de “instrumentalização política”, “sem perceber que com isso comprometeram seu desenvolvimento técnico e científico ao separar a produção teórica e a orientação pedagógica da realidade profissional”. Na passagem de uma para outra zona, a formação acadêmica “continuou voltada às supostas necessidades de um comunicador alternativo que vive à margem da mídia e a despreza” (Meditsch, 1999, p. 72).
No campo da pesquisa, a guinada à esquerda na década de 1970 foi representada por uma onda crítica contra os estudos funcionalistas. Tal mudança de orientação teórico-metodológica não pode ser desvinculada, a nosso ver, das condições materiais que lhe favoreceram. No caso do CIESPAL, houve aproximação da Friedrich Ebert, mas também de outras organizações europeias e entidades latino-americanas vinculadas à promoção da social-democracia, que lhe garantiram apoio financeiro. Com isso, o centro renovou a oferta de cursos de qualificação e de publicações acadêmicas, privilegiando a participação dos pesquisadores ibero-americanos.
Embora o encontro entre as lideranças regionais, em 1973, tenha sido paradigmático para a conscientização da situação de dependência em relação às teorias e técnicas de investigação importadas dos centros metropolitanos, o resultado não foi um processo de descolonização do campo latino-americano, nem a elaboração de uma epistemologia própria. Na verdade, a maioria das reações críticas à pesquisa administrativa estava amparada em fundamentos de tradições do pensamento europeu como a semiologia francesa e a teoria crítica frankfurtiana. Em última análise, quer dizer que uma colonização foi rejeitada mediante adoção de outras contribuições externas. A partir disso, “o campo reuniu uma miscelânea de insights teóricos fundamentados em experiências muito diferentes, formações disciplinares e realidades geopolíticas para interpretar a comunicação e a cultura na América Latina no capitalismo contemporâneo” (Waisbord, 2014, p. 4).
Paradoxalmente, esse giro identificado com organizações políticas de esquerda se iniciou em meio à ascensão do autoritarismo militar na América Latina. Sendo o CIESPAL uma organização regional com sede no Equador, deve-se considerar o contexto nacional em que se insere e as circunstâncias históricas com as quais interage. Nesse sentido, não se pode ignorar as peculiaridades e contradições do regime implantado no país na década de 1970, que atribuiu ao Estado um papel proativo na modernização econômica e nas reformas sociais, ao mesmo tempo que se autodenominava um governo de “caráter revolucionário, nacionalista e humanista” (Isaacs, 1993, p. 55). Por outro lado, atenta-se para as consequências disso, visto que a experiência política “desde a transição para o regime civil em 1979, revelou dificuldades inerentes a qualquer tentativa de criar um conjunto de regras e um quadro institucional que pudesse sustentar a governação democrática” (p. 124).
Significa que, para além da situação internacional, os contextos nacionais e regionais contribuíram fortemente para a formação de relações de cooperação e cooptação entre os diversos atores históricos envolvidos no processo: governantes, agências estrangeiras, lideranças profissionais e acadêmicas, entre outros. Como foi mostrado, isso se deu no CIESPAL inicialmente mediante contratação de pesquisadores estrangeiros para seminários e tradução de obras, bem como patrocínio de bolsas de estudo para investigadores latino-americanos, que posteriormente conquistaram postos de destaque e foram contemplados com inúmeras outras oportunidades acadêmicas. O jogo de influências e apropriações é, no entanto, sempre mais complexo quando as trajetórias são analisadas individualmente (ver o caso de Marques de Melo, por exemplo, em Rüdiger e Daros, 2020).
A formação de uma geração pioneira multifacetada e que foi sucedida por outras, por meio das quais o campo latino-americano se desenvolveu e tem se expandido, com suas próprias escolas, associações e tantas outras iniciativas de alcance internacional; enfim, tudo isso fornece elementos para compreender o significado do processo de descentralização do CIESPAL nas últimas décadas. Em decorrência de tal dispersão de poderes e do pluralismo de ideias, surgem novos desafios que precisam ser encarados, desde a necessidade de formulação de políticas públicas regionais para a área (Kunsch, 2013). Mas também a abertura de frentes de pesquisa ainda inexploradas, com potencial de pensar o próprio papel do campo latino-americano e suas possibilidades de contribuição para o desenvolvimento, em nível global, dos estudos de mídia e comunicação.
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